sexta-feira, 15 de julho de 2011

Cadê?

Cansei de me quebrar por aí. Despejando pedaços de concreto que agora são massa, misturando-se com a lama do mundo. Isso não funciona como deveria. Afinal, não sei bem como reconstruir as coisas, apenas manter o aspecto necessário. Abaixo a cabeça e aceno com a mão direita, envergonhado. Cadê a simpatia? Eu não sei bem como você pode imaginar a cena e por isso injeto a ação, tida como princípio fundamental da narrativa que aqui não existe.
Atravessando a rua, cruzei com a construção mais colorida que jamais ficcionalizei. O motorista de táxi acompanhava a travessia, atrás de mim, com seu carro pouco possante. Certamente desejou acelerar um pouquinho mais pra tirar uma pequena casca que certamente se soltaria do meu corpo pedregoso mais cedo ou mais tarde. Mas somente o vento faz o serviço direito, cortando o mundo a longo prazo, uma faca estragada, útil apenas com o passar do tempo. Mais vento, mais força, mais estragos. Funciona, limando o exterior, procurando a casca de vocês por aí.
A menina dos balões, paralizada na esquina mais próxima de meus pés movediços, encarava o movimento. O vento puxando os balões pra cima, sugando aquilo que acreditava ser seu por direito, o ar mais quente que o nosso. Passei por ela olhando pro chão, pois ainda não aprendi a olhar pra frente. Como poderia? Sei que as minhas suspeitas poderiam fazer sentido: estou na privada do mundo, bosta pra todo lado.
Um ser gritou por perto, despertando meus olhos treinados pela gravidade, "olhe pra baixo".
- "Não tenho nada." - menti. O mendigo queria me cumprimentar e disse algo inaudível.
Afinal, estou com meus fones de ouvidos ligado ao meu nada que reproduz música.