sábado, 13 de agosto de 2011

Rotina

Ao redor da círculo que Adelmo calculava pra si, o ponto que fecha a forma hesitava.

- Não acredito no desespero que todos aparentam ao pensar na rotina. Ela não pode ser tão agressiva assim.

Você observa os olhos dela girando, piscando, tremendo. Eu sinto aquilo que você indica. Há uma exatidão nos seus desejos que eu não consigo conceber. Olho pra cima, desejo uma explicação racional, porém só o destino pode explicar. Sem pensar, acredito naquilo que é perecível: a vida. Caminho sobre seus passos deixados na praia, uma posição a seguir. Uma caminho pré-determinado a justificar minha existência, nossa existência. Nós queremos mais, sem saber exatamente o quê. Eu não quero você, mas te desejo. Você me quer, cogita em me desejar. A nossa rotina parece diferente daquela que planejamos. Com filhos andando pelo jardim cheio de rosas. O leito matutino, o cereal, a televisão, o jornal, o beijo morno. A viagem de carro. O olhar rente. A determinação frágil, o sonho perpétuo, a morte indelével. Tudo vale a pena quando não aconteceu por pena.
Eu queria cebolinha, você rosas. O sustento, a beleza. O que nos sustenta em pé agora? Nossa convivência opera de formas diversas.

- Vamos pro parque hoje. Passear, que tal? - sugere sua voz mansa, porém determinada.

Karen, eu não quero que você roube minha atenção. Afinal, o que mais pesa é o seu destino. Caminha almejando o destaque, o ser mais comunicativo do universo virtual, a formadora de opiniões, seu tumblr, seu blog sagaz, sua estupidez disfarçada de inteligência a frente de seu tempo, engraçada frente aos acontecimentos do tempo. Suas intenções revelam o vazio de suas ações. Isso não vale nada, amor. E eu não quero sua opinião. Muito menos a minha. Que tal nos anularmos?
Sua pressão, meu vômito. Observo o caminho que faço todos os dias, insensível, a rotina perdeu a graça. Quero mais, mas talvez não queira você. Muito menos seus filhos. O destino devia explodir.