domingo, 4 de março de 2012

Campos

Miriam passa as mãos em seu cabelo e relaxa. Espreguiça seus braços, joga-os pra cima, estrala. Vira de lado, dobra as pernas de forma patética, como se fosse chutar algo. Vista de cima, parece um losango desajeitado. O pijama insiste em se dobrar, quer sair do corpo que vela. Ela sonha.
Campos verdes passam rapidamente, capim. A mão direita faz ondas, brigando com o vento que detona o movimento. Ela quer cortar os dedos com o capim. Quer sangrar do lado de fora, pular do carro, voar.
O pai dirige focado na estrada. Sorri, porém não desvia o olhar. Segue reto pela BR ensolarada. Céu vermelho, nuvens aglomeradas em espaços esparsos, cheias. A mãe e a irmã sentam no banco traseiro. Uma olha para a esquerda, a outra mira a direita.
A mãe, sentada atrás da cadeira do motorista, acaricia os ombros do pai e começa a chorar. A irmã dá um tapinha na cabeça de Miriam. O pai vira o rosto, encara a filha, destrava as portas e com os olhos cheios de lágrimas dá uma piscada e diz:
- Boa sorte no mundo, filha.
Miriam abre a porta do carro em movimento e se joga em direção ao capim. E acorda sorrindo pra mim.