terça-feira, 8 de maio de 2012

Juntando clichês

Eu nunca fui muito de descontrolar. E se fosse, acontecia internamente, como aconteceu aquela vez. Eu com um sorriso estampado no rosto no meio de uma festa meio agitada. Eu seguro o copo de cerveja na mão, daqueles vermelhos por fora, tentando bancar o americano de filme adolescente. Mas sem o beer pong, sem grana. "Classe média sofre" diriam os supostos mememakers.
Vejo uma briga a uns 30 passos de mim, duas mulheres atacando o que há de mais frágil e aparente em sua existência, cabelos. Tomo o cabelo "comum", aquele facilmente pegável, ignorando a existência do corte channel e me concentrando na concentração de cabelos que chega, no mínimo, aos ombros delicados das moças. Problema seu. Gritam, bufam, nada inteligível. Também não precisa, o corpo feminino tomado pela raiva das brabas. A morena e a quase morena.
- Será que o dono da festa não pode resolver isso logo? - Meu amigo comenta ali, do meu lado direito -  Elas tão do lado do último galão de cerveja.
- Copo vazio? - pergunto de idiota.
- O que mais poderia ser? Eu cansei de tentar arranjar briga boa. Só sobrou a cerveja. E mulher...
- ...só briga.- Completei. - Ou bate o carro pra chamar a atenção.
O gramado verdejante da mansão, palco da festa, bebe a cerveja que cai dos copos mais alcoolizados. Logo as poças surgirão. Enquanto isso, a morena pega a mangueira do galão de cerveja. Joga o álcool na cara da quase morena.
No meio da platéia que se formou em volta das duas um outro alguém grita:
- Para de desperdiçar a cerveja. Joga no corpo dela, vai!
A morena parece obedecer, encharcando o corpo da quase morena, que solta gritinhos de êxtase, indo pra trás. Na real, ela geme é de raiva, pulsante. Já estava de biquini escuro, na praia de grama com mar de cerveja. A quase morena luta contra o fluxo de cerveja colado em seu abdômen bonitinho.
Fui pro banheiro do térreo, do lado do lavabo. Um casal ensaiava uma trepada em cima da máquina de lavar. Original, pra dois homens. Lavando roupa suja em público.
- Que merda tá acontecendo aqui? - alguém grita do gramado antes que fechasse a porta do banheiro atrás de mim. Só pode ser o dono da festa, o tal do Fernando, amigo do meu amigo. Aquele que tava do meu lado, que convidou 50 pessoas no Facebook. Quarenta e tantas mulheres...mentira. Umas dez, talvez, foram convidadas por ele. Nenhuma brigava.
Cansei de mijar. Dei a descarga e pulei pra lavar a mão na pia atrás de mim, pulo 180 graus. "Pra que pular?" me perguntei depois que sai do banheiro. Se controla, animal.
Procurei álcool na geladeira da cozinha, pertinho ali do lavabo. Alguém fazia omelete, jogando Dreher na panela. O coração agradece, os médicos desrecomendam, ovo dá câncer. Bem, a vida dá câncer, qual o problema?
Na geladeira, Keep Cooler verde, abacaxi? Maça verde? O omeletista me deu um abraço, ofereceu um pedaço do omelete ainda em processo. Não tava afim. Bukowski só come depois de vomitar. Vou seguir o mestre. Como é mesmo aquela frase dele? Ah, procurem no Facebook.
-  Tirem a roupa ou vão embora! - grita mais um machão lá do gramado. Não pode ser o dono da festa. Hum, e se for...
Chego no gramado pra ver a quase morena recebendo uma nota de 100 reais, sorridente, toda estrupiada, cabelo bagunçado, molhadinha, cervejadinha. A morena rola no gramado, rindo. Um homenzinho pula em cima dela. Outro o segue. E o terceiro grita:
- MONTINHO!
Chego perto do meu amigo, parado no mesmo lugar de antes.
- Vou arranjar uma briga. - comenta.
- Cadê o dono da festa? - me pergunto.
Podia ter um garçom aqui né? Um barman, daqueles classudos, anos 50, que até o Poderoso Chefão gostaria, servindo a bebida pra galera super transada e diferenciada. Mas tá lá, o último galão de cerveja a 30 passos de mim, defendido por um montinho.
- Cadê o Fernando, cacete?! - grito.
Pois é, perdi o controle. Simples assim.