sábado, 2 de junho de 2012

Pegadas

Você diz algo do gênero "Ok, eu sei o que você quer dizer. Entendi.", mas na verdade sabe que estava prestando atenção ao movimento dos carros e ônibus da avenida mais próxima. Você não quer saber do interlocutor, mas depende dele. Afinal de contas, você não existe sem público, não é mesmo? Porquê você ainda "produz arte". No final das contas nada significa nada quando se está vivo. O gênio incompreendido em vida, o recluso sem explicação, a vida sem rotação. Eu poderia dizer inúmeras frases potentes sem autor, pra me provar alguém melhor, mais inteligente, que entende a humanidade, aquela sedenta por comunicação, o universo que se rebaixe diante da minha inteligência insuperável. Que inteligência, eu diria? Eu responderia com três pontos.
A chuva demarca o movimento que nós fazemos todos os dias, o desenho das rodas na rua, as pegadas dos transeuntes que precisam andar até o destino depois de tanto sentar no metrô ou na rua. Eu não sei quantas pegadas eu deixei por aí, mas sei que alguém por aí as observou e pensou que eu não valho tanta coisa assim. Nada como a individualidade presente...Mas ao mesmo tempo sei que eu gosto da incerteza da indentidade. Eu não sou aquele que o cara imaginou que eu fosse quando fitou minhas pegadas. Pois cada pegada carrega consigo o pensamento de cada frame de raciocínio ou projeto de pensamento.
Dinheiro, futuro, ambição, o que sou?
Frames por segundo passam e repassam, indo e voltando, assim como a memória que determina que não somos mais os mesmos apenas pelo fato de que o tempo é corrido, sempre a frente. Correndo, correndo, descontruindo, destruindo, reformando, construção.
A gente se acostuma com o que têm. Queremos mais, porque nunca é o suficiente. Fomos criados assim, acreditando que nunca chegaremos ao final, nada é finito afinal. Entendo, mas não aceito e por isso minha atenção é displicente. Porque me concentrar no que fala? Eu sou apenas desenho revelado pela chuva. Eu caminho, identificado apenas pelas minhas pegadas. Eu preciso de você pra decifrar o que deixei por aí, mas não o que sou de verdade. Porque ninguém é nada de verdade. Somos apenas desejos flutuantes. Viu minha pegada por aí, tão hesitante?