Estávamos viajando pelo estado do
Espírito Santo. Eu apenas ia aonde deveria ir, onde me diziam pra ir. Nada me
desagradava. Os hotéis, em sua maioria, 3 estrelas, não atendiam as exigências
ególatras do resto do grupo. Em um desses hotéis, enquanto eles quebravam as
camas, eu jurei ver peixes-espadas na parede do banheiro. Depois da visão, me
joguei no chão e escutei um barulho de vidro que parecia vir do quarto ou algo
do gênero.
O que mais me deixava intrigado
era que, em vez deles saírem do quarto e pedirem para ir para outro hotel, eles
simplesmente destruíam o lugar em que nos hospedavam. Nunca tive problemas com
isso. Tanto com os quartos ou com a banda. Simplesmente fazia meus solos e eles
aprovavam. Nos ensaios era sempre assim. Logo depois do sinal de dedo polegar
pra cima, eles voltavam para seu estado de transe musical. Continha meus risos.
Ei, eu não tinha culpa. Claro que gostava do som, mas não conseguia me entregar
como eles faziam.
Já o público parecia gostar dos
shows. Tudo o que eu via eram peixes-espadas pulando loucamente no teto. Ou
queria ver. Em um dos shows pelo estado, estávamos tocando nossa quinta música,
pouco conhecida pelo grande público, e antes do meu solo, eu desmaiei. Caí na
direção dos fãs e eles me seguraram. Uma parede humana amortecera minha queda.
No hospital escutei as palavras
“para sempre”. Por favor, não pense que usava drogas. Eu era usado por elas por
um propósito. Só não lembro mais qual era.
Hoje, preso nesse quarto de asilo
e olhando a parede que fica do lado de minha cama, eu recordo, e agora
compreendo, nessas linhas o que sobrou na parede da minha memória. O “para
sempre” do doutor tinha relação com a banda. Por isso, desde aquele dia a banda
tinha acabado. E desde aquele dia, nunca mais encontrei ou ouvi falar dos
outros integrantes. Devem estar quebrando quartos de asilo, enquanto eu olho
vagamente paredes.