Seria necessário lhe propor um desafio: daqui um ano
você refutaria toda e qualquer tipo de necessidade.
Tire a roupa que lhe separa do oxigênio que seus pares
despejaram sobre ti. Use-o contra eles. Inspire o alimento gasoso de seus
semelhantes e exale-o sobre a mortalha
que lhes reveste a carapuça. Recicle o lixo que você acreditou ser seu subsídio
por anos a fio e entregue-o na porta daqueles que decidiram esquecer seu nome. A
obesidade mórbida de mentiras que compõe seu corpo está vergonhosa. A dieta irá
começar.
Saia da internet e faça uma lista com todos os nomes que
puder lembrar. A quantidade não assusta, mas não se contente com números. E,
acima de tudo, esqueça a existência de qualidade. Sambe sobre o conhecimento de
causa: o pior é sobreviver. Vença os nome pelo silêncio de sua existência.
Imploda o brado, corte suas cordas vocais do celular. Pare de teclar por atenção
e coma seu aparelho.
Faça exercícios. Por 365 dias consecutivos, após
acordar, encare a parede a sua frente por exatos 4 minutos e 30 segundos. Nesse
tempo, pense em um dos nomes da lista. Um nome por dia. Ficará satisfeito em perceber
que com o tempo cada nome terá o peso da cor da parede encarada. Se o número de
nomes exceder 365, repita o procedimento diariamente quantas vezes forem
necessárias. Faça a divisão de forma metódica. A medida é simples, pois tende
ao nada. Lembre-se, você pertence a si mesmo. E nomes são paredes. Objetos
inanimados não podem causar ansiedade.
Sentimentos serão seu único alimento. Deglutidos, digeridos,
processados e, por fim, defecados, num processo contínuo até o último resquício.
Todos os nutrientes que precisa estarão na sua raiva, na sua dor, na sua alegria,
no seu desespero, no seu destempero e assim por diante. Não esqueça o azeite
extra-virgem de hiperatividade. Chegará o dia em que seus sentimentos morrerão
e você será livre. Livre de fome, livre de vontades, livre de desejos. Esse
será o momento perfeito para correr em círculos e não parar para conversar com
ninguém. Dica: mantenha o olhar fixo para um ponto distante ou encare o chão.
Fingir uma soneca também é recomendável.
Acredite que o presente é o futuro. Expectativas serão
apagadas a golpes de borracha. Enquanto isso acontece, mantenha-se ocupado sem
motivo aparente, repitindo o mantra: “Eu não acredito em você.” Lave roupa,
tome banho, escreva cartões postais contendo apenas onomatopéias e memes que
lembrar da extinta internet, não tome decisões e aceite tudo o que lhe for
proposto sem pensar. Ambições implodirão uma a uma. Por consequência sua
motivação será despedaçada.
Caso siga essa dieta à risca após um ano, você
finalmente poderá dormir apático com um belo sorriso no rosto.