Os olhos tremem, mas ele não sabe o porquê. Insiste num movimento que ele mesmo não sabe exatamente qual, não quer aquele cimento a sua frente, mas não quer a alternativa de pegar o condução lotada de manhã. O suor, o mal humor, a insensibilidade forçada pelo ar que os rodeia.
Ele gosta de observar as pessoas pra não pensar sobre si mesmo. Confere seus sentimentos sem sucesso, a face é única para todos, plácida e gélida. Mario projeta seus medos sob seus pés, já que assim pode pisar em seus temores a cada passo que dá. Tarefa ingrata. Improdutiva. Os temores se renovam, em ciclos, margeiam sua existência, disfarçados. O ano passou.
Ele acredita na necessidade de resoluções. Mas sabemos que todo problema traz consigo desenvolvimentos longínquos, nós precisamos dos problemas, os problemas nos querem. Crescemos, amadurecemos, a criança egoísta hiberna, o urso adulto acorda. Presentes de Natal.
Mario encara a árvore de Natal. Nunca pensou em como seria seu Natal sem a presença dos avós, figuras aglutinadoras, a família reunida. Árvore enfeitada, cheia de adereços, cobrindo sua nudez, sua natureza verde e simplesmente existente. Assim como ele, decorado pelo comportamento insensível, estático. O tio cutuca seu ombro:
- Sua avó que decorou, lindo né?
- É...demais.
O tio sai, vai pegar mais uma cerveja.
Mario encara a árvore de Natal mais uma vez. Encara o chão, os olhos tremem. Ele corre para o bar. Duas horas depois:
- Mais uma dose de vodka, garçom.
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