sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Aula, boçal

- Pensemos numa história que pareça que se construa sozinha, não no sentido acadêmico da coisa em que não exista autor ou algo do tipo. A idéia é tentar construir uma história de uma relação que necessariamente não seja de pessoas, mas que sim, sejam apenas duas. Com frases de efeito que funcionem e não sejam jogadas ou pra encher espaço, ou pra dar uma suposta profundidade, que no fundo (olhe o trocadilho), é raso. Pra isso, primeiro precisamos de uma boa trilha sonora, evidentemente, boa para o gosto de quem escreve a história. Ninguém vai saber o que o cara ouviu quando escreveu AQUELA frase foda, então anotar a música é perda de tempo. A partir daí, a história vai se desenhar ao sabor da música, e é óbvio que isso é absurdamente ridículo, mas muita gente sabe o que eu quero dizer. Se não souber, não tem problema. O que queremos de fato é soarmos engraçados e mas ao mesmo tempo profundos. Cabe ressaltar aquela velha dialética do ator cômico que quer ser levado a sério, mas nunca consegue. E quando consegue, as pessoas querem que ele seja apenas o ator cômico. E isso está atrelada com a expectativa que as pessoas têm das outras pessoas. A palavra de ordem é exatamente essa: ordem. Expectativa alcançada é ordem respeitada. Obviedade seja respeitada, não é pra isso que estamos aqui.

Barulho de lápis batendo em cadernos.

- Vejamos, você, fale!

- Eu, porque tem que ser eu sempre, professor?

- A senhorita sabe a resposta.

- Ok, ok. Tá, é pra falar a trilha sonora que eu escolheria?

- Não, o que foi que eu disse?

- Ai, ai. Calma então.

- Ande logo. Feche os olhos e começe a me desenhar uma história em 10 segundos.

- Será que eu consigo? Ela se perguntou em baixo tom.

Dez segundos se passaram. Tempo suficiente para o professor coçar arduamente sua barba grossa e exigir uma história.

- Como é? Vamos?

- Certo, eu vejo...

- Você vê? Drogas só são permitidas no intervalo, senhorita.

Um burburinho começa atrás da senhorita.

- Duas crianças está brincando no meio de uma aula. O professor vê e dá um sermão. Ele diz: "Muito bem, qual é o sermão que querem levar hoje, crianças? O de que seus pais estão gastando dinheiro pra vocês estudarem e não brincar? Não? Que tal então a de que..." Então o sinal do recreio bate.

O sinal para o intervalo bate e a sala olha assustada para a senhorita.

- Outro "Mais estranho que a ficção" senhorita?

E antes que pudesse responder, a sala começa a se esvaziar e ela some no mar de alunos apressados.

- Na próxima aula, eu trago um cadeado pra porta - resmungou o professor.

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