segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A cor tá falha

De tons envelhecidos, a arte de Glória vinha do que não se podia descrever. Abstração pura, contida num pote de dimensões surreais, na sua grande perda de tempo. Alguns diziam que ela pintava seus sentimentos. Cada cor, um nome. Intensidade identificava apenas aparência. Ela era mesmo contagiante, para muitos.
De sua barreira, sua barreira em preto e branco, ninguém a atingia. Monocromático eram seus movimentos, colorido eram seus toques. Como o toque, distorcido, de Rei Midas em suas mãos, algo nela a tornava um ser romântico. Idealizada.
Presente de corpo e alma com quem fosse falar com ela. Mas um ar "cool" a preenchia. Um menosprezo delicado, de tons vívidos. Ela me disse uma vez que era seu lado azul celeste perdido. Daqueles que você vê por alguns segundos e tem a certeza que nunca mais verá. Como uma cena que jamais se repetirá. Aquele quarto de segundo em que é repassado nos sonhos dos maiores pensadores.
Tenho certeza que a mais profunda admiração partia de mim, mas nunca foi além disso, e era pra não ter sido. Numa dessas conversas de meio de rua, no começo da semana em que ela estava perturbada com contas, me perguntou algo que eu, na reação mais besta - quando se fala "é, isso mesmo" para alguma pergunta que não se entende, não se ouve ou que se quer escutar de novo por prazer - fiquei sem reação logo depois de despedirmos.
Meu rosto preto e branco brilhou depois que nós caminhávamos em direções opostas.

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