terça-feira, 18 de setembro de 2012

Animais - Direto de 2006



Sapos

Três dedos que indicam dois caminhos: afogar ou ser enterrado. Do comum verde, olhos atentos e língua esperta, o ser úmido desliza pela vida dupla. Alegria das crianças que vão vê-lo com as mãos e nojo dos adultos que pisam na criatura. Na altura da transição, lugares molhados e escuros são acolhedores assim como abençoados. Longos saltos rumo a uma mosca. A língua do sapo salta sem pensar nas conseqüências e represálias. Dos mergulhos que desesperam seus filhos girinos, temerosos pelo movimento da água, a volta para a superfície é triste.
À nossa relação regada à umidade. Você, com suas mãos pegajosas, deitada no tapete chora por medo de secar. Meu pedido sempre é atendido, sua entrega fria ao meu desejo flamejante. O choque imediato provoca a explosão que estamos acostumados e nunca cansamos. A visão de suas costas salta-me os olhos. Provocação deslizante.






Panteras

Os olhos da pantera mentem sobre sua natureza. Preguiça escura ou não, preocupa-se em apenas estar presente na fila da fome do meio-dia observando a carne vermelha saltitar pelos verdes ou amarelos vales. Cuida dos filhotes como se fossem bichos felpudos e atravessa selvas de olhos fechados, após a meia noite. Trepa objetos e seus companheiros com um desespero de provocar inveja à poucos.
Tantas sobras do meio dia servem para esconder o animal dentro do animal que a pantera é. Servida de lucidez e paciência, o único dom que mostra ter é o silêncio. Silêncio quebrado quando chega sua vez na fila da fome. A educação à mesa nunca foi o seu forte.
A pantera transita em um cubo dividido meio a meio. Metade horizontal superior é a frieza selvagem e a metade horizontal inferior composta de gritos, urros e simples mios. Ela tem sua fraqueza quando tenta bancar a criança.







Ornitorrinco

        A palha entre os pêlos invade os olhos negros dessa extinção ambulante. Dos livros de biologia, nada mais pode ser do que um caco perdido da taxionômica evolução da irracionalidade. Bico negro como o orifício que brotam pequenos ovos, portadores da extinção. Vive recluso, calado, esperando sua vez. Representa a transição de vida, considerada ponte fundamental.
        Sua voz estoura os tímpanos, uma voz gralha e fraca, completo espelho de vontades extremas escondidas na negritude de seus olhos, espelho de sua tara. Te jogo na palha com uma rasteira devassa e te devoro no café-da-manhã exótico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário