segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Carta

A saia passada, cortando o ar mais rarefeito que eu já vi. Seus passos marcados no chão, decididos, pareciam oferecer resistência ao diálogo. A sequer uma sílaba.
Mas ela estava muito longe pra esboçar alguma reação além daquela que estava representando. Caminhava para seu destino, algum lugar aconchegante, como uma parede macia receptiva. Aos poucos presentes no caminho demarcado por argamassa, restavam-lhe olhar para o céu, as nuvens ventadas, ou o chão, as pernas calejadas.
Eu sussurrei no escuro:
- É assim mesmo. É isso e nada mais...passado o tempo de reconhecimento da área, o mapeamento das reações químicas que teu rosto me proporciona. Longe de mim querer um olhar assim...
Um estranhamento na espinha, respiração dificultada e as mãos balançando para não demonstrar o nervosismo:
- É realmente uma palhaçada. sabes da tua condição e mesmo assim não se entrega. É uma fraca desgraçada. Queres um dinheirinho? É casual, considere como se eu tivesse te pagando uma cerveja. Vai, vai...
A maioria diria que a coisa não é como tal apresentada. Os balbucios impedem a ação esperada do corpo. Dois atos, sem consequencias. Uma mão do lado, a outra em baixo. A parede macia, meu deus! Seria uma noite.
Uma coisa realmente significativa, que representava uma vivência completa. Por uma noite, uma única respiração.
- Aqui se faz, aqui se mata. Queres mais algo? Nada vai vazar daqui.
Prontamente ela responde depois de 10 minutos de greve de silêncio:
- Não mete essa!

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